a caneta mais comum no mundo
László József Bíró (1899 —1985), húngaro naturalizado argentino, apresentou sua primeira versão da caneta esferográfica na Feira Internacional de Budapeste, em 1931. Enquanto trabalhava como jornalista na Hungria, apreciava a tinta usada na impressão de jornais que secava rapidamente e sem manchas. Fez várias experiências tentando usar a mesma tinta em uma caneta-tinteiro, percebendo que a mesma não fluía para a ponta da caneta, pois era muito viscosa. Trabalhando juntamente com seu irmão Georg, um químico, desenvolveu uma esfera que girava livremente na ponta da caneta e que pelo atrito com o papel deixava uma trilha de tinta. Biró patenteou a invenção em Paris, em 1938.
Na França, em 1945, final da segunda guerra mundial, um italiano chamado Marcel Birch (1914-1994), mais tarde nomeado Barão Birch, em sociedade com o francês Edouard Buffard (1908-1996), comprou uma fábrica para produzir peças para canetas-tinteiro e lapiseiras.
À medida que o negócio de peças para instrumentos de escrita começou a crescer, Birch adquiriu os direitos das patentes de László József Bíró para uma esferográfica e em dezembro de 1950, lançou sua própria caneta na Europa e nos Estados Unidos, batizando-a de “BIC”, uma versão mais curta e fácil de lembrar do seu próprio nome. Tinha nascido a BIC® CRISTAL®: barata, simples, fácil de controlar se a tinta estava acabando, e como ele dizia: extremamente confiável.
Em 1954 abriu a fábrica na Itália, em 1956 no Brasil, em 1957, no Reino Unido, Austrália, Estados Unidos e hoje está instalada em 162 países. As esferográficas BIC revolucionaram a escrita. É incalculável o número de canetas BIC vendidas no mundo. Há cifras como mais de 100 bilhões desde a sua criação!
Normalmente, a caneta esferográfica não é automaticamente ligada à arte, mas desde a sua criação, artistas do mundo inteiro a usam em esboços e desenhos como qualquer um dos instrumentos de escrita criados antes. Hoje, ainda que boa parte da escrita venha sendo substituída pela digitação em micro computadores, laptops, notebooks, tabletes e smartphones, mesmo assim, quem não usou uma esferográfica para fazer um esboço, um esquema, um mapa, um desenho?
Artisticamente, a caneta esferográfica apresenta algumas características únicas: uma linha sem mudanças de espessura e praticamente ininterrupta. A esferográfica permite traços mais longos que outros instrumentos que usam tinta: pincel e penas.
Durante o início dos anos 1940, a esferográfica de Biró foi largamente comercializada na Argentina. Nessa época, a força aérea americana havia encomendado 2000 canetas porque elas não vazavam nas altas altitudes. Esferográficas foram guindadas à categoria de produto do futuro. Lucio Fontana começou utilizando-as intensamente desde 1946 em esboços e desenhos preliminares. Seus desenhos deste período apresentam uma continuidade de linha e uma velocidade, que se tornaram possíveis pela natureza da caneta.
Alberto Giacometti usou a caneta esferográfica, desde o começo dos anos 50 até a sua morte em 1966. A fluidez da caneta servia à fatura do artista que desenha em nuvens agitadas formadas por traços rápidos.
Alighiero Boetti, que era filiado à Arte Povera (arte pobre), fez seus primeiros desenhos exclusivamente com caneta esferográfica. Guiado pela ideia de que artistas devem trabalhar com materiais comuns para ter mais identidade com o dia a dia, Boetti escolheu a esferográfica não só por sua onipresença. Ao longo da década de 1970, completou desenhos monumentais, delegando a indivíduos anônimos, em geral estudantes de arte em Roma, a tarefa de preencher o papel.
O artista belga Jan Fabre usa a esferográfica para desenhos e também para cobrir grandes áreas de fotografias. O azul da caneta mais usada no mundo dá uma aparência mágica de anoitecer a outras mídias.
Muitos artistas usaram a caneta esferográfica em seu trabalho artístico, como: Toyin Odutola, Martin Kippenberger, Cy Twombly, Dan Flavin, Hanne Darboven, René Magritte, Rita Ackermann, Bill Adams, Dawn Clements, Russell Crotty, Rita Nesby, entre outros.
Citando Richard Klein, curador do The Aldrich Museum: “a esferográfica continua a ser uma ferramenta de desenho infinitamente adaptável e durável, que pode dançar na fronteira entre o coloquial e o profundo. Sua ponta minúscula, rolando, é afinal uma esfera, sem para frente ou para trás, para cima ou para baixo, com apenas uma verdadeira direção: adiante”.
fontes:
Fairbank, Alfred J. – The Story of Handwriting -Origins and Development, Faber & Faber, Limited, 1970
Neef, Sonja – Imprint and Trace: Handwriting in the Age of Technology, Editora Reaktion Books, 2011